O São Paio da Torreira é a festa da ria e dos arredores. Acorrem à velha praia ribeirinha e marítima desde moliceiros, pescadores e donos de mercantéis, aos moços da lavoura e ao povo de toda a região. De ano para ano as confrarias do santo procuram melhorar os festejos, mas, quer os melhorem ou não, e se o tempo o permitir, são, em quaisquer circunstâncias, dias de festa rija e de grande animação, porque para isso bastam dois simples números do programa e estes nunca falham: a procissão do Santo com bênção da ria e do mar, onde os barcos se alongam como fiéis ajoelhados, e os arraiais populares com músicas esgrimindo entre si a taça do prestígio e da popularidade, barracas de comes e bebes, carrosséis, máquinas de forças, bancas de jogo batoteiro e, sobretudo, com a animação que o povo sabe dar a tudo quanto é do seu agrado.
Todos os anos a aldeia de São Jacinto se despovoa naqueles dias, e os homens, as mulheres e as crianças vão vivê-los no arraial do Senhor São Paio. Para isso juntaram o ano inteiro economias, e, apesar da fome, do luto, das histórias negras da ria, há sempre um lenço novo, uma blusa, uma camiseta ou umas calças, como se o Santo quisesse ver o povo bem vestido.
Quando chegavam à Torreira amarravam os barcos em ancoradoiros de ocasião, depois os homens juntavam-se aos homens, as mulheres às mulheres que arrastavam pela mão os filhos miúdos, e as raparigas às raparigas, não sem que as mães lhes tivessem chamado a atenção para o sítio do ancoradoiro e para as horas a que deviam regressar.
Então começava verdadeiramente o São Paio para o pessoal da ria. Depois duma rápida visita ao Santo, os homens iam para as barracas gastar os cobres de que dispunham e tentar a sorte na vermelhinha. As mulheres sentavam-se no adro olhando a mancha colorida do arraial. Por seu turno os jovens, moços e moças, ora passeavam ao longo das ruas embandeiradas, ora organizavam bailes populares animados por um harmónio ou uma concertina. Ouvia-se ao longe o bater das chinelas, e nuvens de pó iam tornando mais densa a atmosfera carregada de fumo e das vozes fanhosas dos gramofones.
No meio do bailarico erguia-se uma voz atrevida convidando ao despique, não raras vezes acabado com zangas e zaragatas:
Meu Santo Senhor São Paio,
Meu Santo rapioqueiro,
Se eu não me casar, pr´ó ano
Não te deixo mais dinheiro.
Augusto Lindolfo
https://www.youtube.com/watch?v=UCLaa6a86Uc
Quando chegavam à Torreira amarravam os barcos em ancoradoiros de ocasião, depois os homens juntavam-se aos homens, as mulheres às mulheres que arrastavam pela mão os filhos miúdos, e as raparigas às raparigas, não sem que as mães lhes tivessem chamado a atenção para o sítio do ancoradoiro e para as horas a que deviam regressar.
Então começava verdadeiramente o São Paio para o pessoal da ria. Depois duma rápida visita ao Santo, os homens iam para as barracas gastar os cobres de que dispunham e tentar a sorte na vermelhinha. As mulheres sentavam-se no adro olhando a mancha colorida do arraial. Por seu turno os jovens, moços e moças, ora passeavam ao longo das ruas embandeiradas, ora organizavam bailes populares animados por um harmónio ou uma concertina. Ouvia-se ao longe o bater das chinelas, e nuvens de pó iam tornando mais densa a atmosfera carregada de fumo e das vozes fanhosas dos gramofones.
No meio do bailarico erguia-se uma voz atrevida convidando ao despique, não raras vezes acabado com zangas e zaragatas:
Meu Santo Senhor São Paio,
Meu Santo rapioqueiro,
Se eu não me casar, pr´ó ano
Não te deixo mais dinheiro.
Augusto Lindolfo
https://www.youtube.com/watch?v=UCLaa6a86Uc