domingo, 26 de maio de 2019

Alterações Climáticas


Discurso de Greta Thunberg na COP24, em Katowice

O meu nome é Greta Thunberg. Tenho 15 anos e sou sueca. Falo em nome da Climate Justice Now (Justiça Climática Já). Muitas pessoas dizem que a Suécia é apenas um país pequeno e o que fazemos não importa. Mas eu aprendi que nunca se é demasiado pequeno para fazer a diferença. E, se umas quantas crianças conseguem ser notícia por todo o mundo só porque faltam às aulas, então imaginem o que podemos fazer todas, se realmente quisermos. Mas, para o fazer, temos de falar com clareza, por muito desconfortável que possa ser. Vocês só falam de eterno crescimento económico verde porque têm demasiado receio de ser impopulares. Só falam de prosseguir com as mesmas más ideias que nos conduziram a este sarilho, mesmo quando a única coisa razoável a fazer é puxar o travão de emergência. Vocês não têm maturidade suficiente para dizer como as coisas são. Até esse peso deixam sobre nós crianças. Mas eu não dou importância a ser popular. Importo-me com justiça climática e o planeta vivo. A nossa biosfera está a ser sacrificada para dar oportunidade a um número muito pequeno de pessoas de continuarem a obter enormes somas de dinheiro. A nossa biosfera está a ser sacrificada para que pessoas ricas em países como o meu possam viver no luxo. É o sofrimento da maior parte que paga os luxos de alguns poucos. No ano de 2078, farei 75 anos. Se tiver filhos, talvez eles passem esse dia comigo. Talvez me façam perguntas sobre vocês. Talvez perguntem porque é que não fizeram nada quando ainda havia tempo para agir. Dizem que amam os vossos filhos mais do que tudo o resto e, no entanto, estão a roubar-lhes o futuro mesmo à frente dos seus olhos. Até começarem a concentrar-se no que é preciso fazer, mais do que no que é politicamente viável, não haverá esperança. Não se resolve uma crise sem a tratar como crise. Precisamos de deixar os combustíveis fósseis no subsolo, e temos de pôr a tónica na equidade. E se as soluções dentro do sistema são tão impossíveis de encontrar, talvez tenhamos de mudar o próprio sistema. Não estamos aqui para implorar aos líderes mundiais que cuidem. Ignoraram-nos no passado e voltarão a ignorar-nos. Esgotaram as desculpas e estamos a ficar sem tempo. Estamos aqui para vos dizer que a mudança está a chegar, quer queiram quer não. O verdadeiro poder pertence às pessoas. Obrigada.

(arte de Os Gémeos e Blu, em Lisboa)
https://www.youtube.com/watch?v=aNAdAvQ-ejE



quarta-feira, 22 de maio de 2019

Regresso ao Princípio do Mundo

Existe uma linha mágica que percorre o interior do território português conformada por serras, penedos mágicos, águas santas, bosques de carvalhos e tradições vivas que dão um vigor mágico um "outro mundo" completamente desconhecido do homem light das sociedades modernas. Esse território interior vai do interior do Alto Alentejo, passando pelo santuário do deus Endovélico, pelas terras mágicas das Idanhas, pelas serras da Gardunha e da Estrela, pelo vale do Côa e pelo Alvão até à região transmontana das saturnais de fogo do concelho brigantino.
Faremos neste artigo uma viagem essencialmente pela Beira Baixa...
Os concelhos do Fundão e de Idanha-a-Nova são ricos em paisagens culturais e naturais.
Idanha-a-Nova integra no seu concelho sete castelos templários e as ruínas da Egitânia romana, que deu origem à Idanha-a-Velha actual onde a sua Sé, de visita obrigatória, é um testemunho da passagem de vários povos pela região. Após o domínio muçulmano, os  Templários construíram o castelo medieval colocando a sua torre de menagem em cima do podium do Templo de Vénus.
Em Idanha-a-Velha encontra-se a maior colecção epigráfica de estelas visigóticas no nosso país.
Percorrendo os vestígios da antiga muralha, sente-se a nostalgia provocada pelo gigante adormecido. Quando um dia despertar, eis as ruínas de toda uma cidade romana a mostrarem os seus tesouros milenares.
Esta viagem ao princípio do mundo foi realizada iniciaticamente pelos Cavaleiros do Templo, pelo que grande parte da região da Beira Interior era domínio dos Templários.

Paulo Alexandre Loução



FOTOS DE IDANHA-A-VELHA




quarta-feira, 15 de maio de 2019

A Nave de Pedra




Quem vem de longe, das terras frescas do litoral, onde o verde salpica os olhos e se debruça nas estradas, e após a transição das ravinas do Zêzere, encontra uma paisagem que passo a passo se atormenta: a Beira Baixa. Aí, transposta que é a charneca com a sua cabeleira rala, nos cômoros a ferida aberta das ribeiras que descem ao Tejo por entre sobressaltos de xisto, ou ainda o dourado da campanha da Idanha, a querer-se alentejana sem o ser - aí, senhores, já a tristeza começa a espessar-se, a montanha crepita tendo por detrás relances de horizontes fundos, e as coisas se tornam graves. Ei-lo, um mundo de soledade, sobre que pesam crimes, mesmo se as frondes e as ramadas lhe escondem as dores do exílio.
Assim, de facto, o sentimos: remoto e em degredo. E Monsanto se chama, de pedra é feito - minha nave coalhada.

Fernando Namora
(texto e pintura)
https://www.youtube.com/watch?v=337FcBClIBM

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Primeiro 1º de Maio


No dia primeiro de Maio
neste país de prosa até aos dentes,
rodeado de palavras em tudo o que é papel
ou coisa transmissível
quem quis foi para a rua fazer o seu poema.
Não estava ali ninguém para discursos, 
os artigos eram para limpar o cu.
As velhas queriam dançar - quem sabe -
pela última vez na sua vida.
As raparigas gritavam por aborto livre
e um homossexual levava uma criança ao colo
porque exigia creches no seu peito pintado.
No meio das grandes massas e palavras de ordem
a voz abafada do desejo erguia o seu poema, 
transgredia.
Prosa, poema, caos, libertinagem?...
Cada um escrevia ali o seu poema
entre os fulgores de um Maio
erguido a custo
nas mais finas agulhas.
Cada um deixava o sangue crescer
na mão do outro.
Mar, mar tenebroso e de repente calmo
na espuma de um sorriso,
na palma aberta ao rosto imediato.
Toda a cidade, agora feita de água,
brilhava e anoitecia nas gargantas.
Era um poema longo, longo
o que ela respirava.

Armando Silva Carvalho
https://www.youtube.com/watch?v=6sV8jCt44m4