Duas bocas desdentadas e hiantes,
Duas peles de animais parcialmente decompostas
A cheirar a ninhos de ratos.
De que me valem os livros
Quando em vocês é possível ler
O Evangelho da minha vida na terra
E ainda mais além, das coisas por vir?
Quero proclamar a religião
Que concebi para a vossa humildade perfeita
E a estranha igreja que estou a erigir
Tendo-vos por altar.
Ascéticos e maternais, vão persistindo:
Semelhantes a bois, a Santos, a condenados,
Com a vossa paciência calada, compondo
O meu único retrato verdadeiro.
Charles Simic (tradução: Vasco Gato)