domingo, 16 de setembro de 2012

A importância de não ser de lado nenhum



Não sei se somos nós o povo dos navegadores. Creio que todos os que cresceram junto a um mar também o são: holandeses, polinésios, viquingues, Cook, Tasman, Sinbad. Também não sei por que somos nós o povo dos poetas. Os húngaros consideram-se um povo de poetas, os chineses também, os persas cultivam a poesia desde os tempos de Zaratrusta, os chilenos e os polacos têm prémios Nobel de poesia, para não falar nos italianos, dos franceses, dos irlandeses.
O bacalhau tão amigo dos nossos pobres, também o era dos genoveses, e dos catalães, quando eles eram pobres e emigravam para a Califórnia e para a Argentina. O veneziano Pietro Querini, no século XV, iniciou o comércio regular de bacalhau das ilhas Lofoten com o norte de Itália, e ainda hoje um dos pratos mais típicos de Veneza é o bacalhau amanteigado.
Não sei por que o nosso vinho é o melhor do mundo. Também o dos neo-zelandeses, o dos sul-coreanos e o dos alemães o é. Basta bebê-lo com a companhia certa e qualquer vinho, de qualquer preço é o melhor do mundo. a nossa gente é simpática e hospitaleira, mas é rude e iletrada. O clima é bom mas húmido, temperado mas instável, o sol aquece mas o mar aleija.
Viajando, tenho reparado que é transversal a tantas pessoas de tantas nacionalidades esta necessidade de se assegurarem da mesma coisa: que pertencem a uma nação especial. E pertencem, porque é a sua. Cesare Pavese escreveu um livro lindíssimo sobre tudo isto, sobre a necessidade de pertencer a algum lugar, uma dolorosa reflexão da importância de ter raízes. Que são como os parentes: não se escolhem, recebem-se.
O clima é instável, o mar gelado, a terra pobre, as cidades desfiguradas, a gente dura mas hospitaleira. O bacalhau cada vez mais caro, o vinho também. Mas é tudo o que tenho e o que espera por mim. Às vezes, sabe bem regressar. Outras, apetecia mesmo era ficar para sempre lá fora - mas nem vale a pena tentar.

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