quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Final de caminhada


Entrada em Covas do Monte cerca das três horas, o Sol queimava, e eles começaram a atravessar a aldeia devagar, caminham um a um espaçadamente, detêm-se a observar e a fotografar o mais ínfimo pormenor, o encaixe perfeito das placas de xisto nos telhados, a estrutura de uma janela, a simplicidade de uma ponte de madeira. Como peregrinos acabados de chegar ao seu destino, não tinham pressa e queriam apreciar exaustivamente tudo quanto os seus olhos captavam. Cabras, muitas cabras, ao longo das paredes, para se abrigarem do Sol. A certa altura havia um muro muito comprido à sombra do qual descansavam dezenas de cabras tranquilamente alinhadas. Uma imagem deveras insólita e inesperada a merecer muitas fotografias. Não longe dali a pastora vagueava com alguns animais, pois a maior parte já se refugiara nos abrigos. Tudo parecia tão irreal. O som das palavras é abafado, os gestos lentos, o ar pesa, a claridade atordoa. Mas para além de tudo isto ou por isso mesmo, sente-se em harmonia com a natureza e o espírito do lugar. E principalmente com ela própria. Um sentimento de mansidão e de profundo bem-estar predispunha à manifestação de comportamentos espontâneos e alegres.
 A aldeia tem poucos habitantes, são muitos os sinais de abandono, no entanto viram algumas pessoas, talvez se encontrassem de visita a familiares ou a passar férias na terra, numa zona que deve funcionar como centro da aldeia, à volta de uma fonte e não longe do inesperado restaurante já referido.
Na fonte, eles aproveitaram para se refrescarem, beber água, molhar braços, rosto e cabelos, repetindo gestos idênticos aos dos seus antepassados. O mundo real continuava muito longe dos seus pensamentos.
Em seguida entraram no restaurante que, como foi dito, está instalado na antiga escola primária, atravessaram a sala de jantar decorada com gosto, num estilo regional sóbrio e dirigiram-se para a zona do café/bar, um espaço que corresponde ao que era dantes o telheiro no recreio da escola, fechado de lado por um vidro, equipado com uma fila de  mesas rectangulares de madeira colocadas paralelamente umas às outras e bancos corridos em vez de cadeiras. Este mobiliário simples era o mais adequado possível às dimensões e aos traços da arquitectura original do  lugar.
Neste café, onde não faltavam os usuais refrigerantes e gelados, resolveram beber uma cerveja bem fresquinha. Um prazer redobrado, sobretudo porque tão improvável numa aldeia tão isolada, talvez uma maneira de festejar esta aventura com final muito feliz.

HN
http://www.youtube.com/watch?v=hcr3XhXdXfA

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