Naquele tempo, a gente morava na Moita Vaqueira, areias a perder de vista, e pinheiros e mato, sempre, e algum tojo a picar-nos os artelhos. A bem dizer, não era mesmo na Moita Vaqueira que a gente morava, mas muito lá perto, num sítio maneirinho e pobre, como todos nós, e dizer-lhe o nome não importa, porque ninguém ia encontrá-lo no mapa. Adiante. Eu ouvia falar muito na Feira do Ano, que era em Montemor(...)
Quando o meu tio das Franciscas vinha lá a casa é que mais se falava na Feira do Ano, e que haviam de lá ir um ano destes, falavam, falavam, num embevês de os mais pequenos ficarem muito dependurados de encanto. E de tudo o que eles conversavam só ficavam-me as pontas do nunca não visto, essas novidades que me davam a volta ao entendimento, a entrechocarem-se, negaceavam a minha tanta ignorância de tudo. Até que, pois, finalmente. E farto de não entender bem essas coisas, perguntei como pude, na minha voz de tatibitate:
- Tio, o que é o circo de cavalinhos?
O meu tio das Franciscas ficou a olhar-me um nadita de tempo, a cara redonda de sabedoria, contente, bonzão que ele era, sorrisoteiro como sempre, quando a gente lhe perguntava certos mistérios. E o meu tio mexeu a língua lá dele e pôs-se então a contar, explicadinho. Circo de cavalinhos é assim uma geringonça de andar sempre em de-roda, sempre, uma pessoa até entolece. Tem bancos corridos de madeira, girafas e zebras, cavalos pintados de todas as cores, e é por isso que se chama circo de cavalinhos. A gente entra e assenta-se num banco, ou amontoa-se em riba desses animais como se fossem mesmo a valer. E lá, numa cabina, há um homem que carrega num botão, e então aquela balhana começa às voltas e voltas, uma coisa por demais, até voltar outra vez a parar. E dá-nos um ventinho na cara que é uma beleza, por causa do galope dos cavalos e da outra bicharia, e dos bancos, tudo em corrida desembestada, e sobe-que-desce, e sobe-que-desce, é preciso a gente agarrar-se muito bem, quando não podemos trambolhar lá em baixo. As pessoas riem-se muito umas para as outras nessa alegria corrida, parecem mesmo palheiras soltas ao vento, ou pássaros fugidos nem sabe-se de quantos inimigos. Aquilo só visto se pode acreditar.
O meu tio das Franciscas ficou a olhar-me um nadita de tempo, a cara redonda de sabedoria, contente, bonzão que ele era, sorrisoteiro como sempre, quando a gente lhe perguntava certos mistérios. E o meu tio mexeu a língua lá dele e pôs-se então a contar, explicadinho. Circo de cavalinhos é assim uma geringonça de andar sempre em de-roda, sempre, uma pessoa até entolece. Tem bancos corridos de madeira, girafas e zebras, cavalos pintados de todas as cores, e é por isso que se chama circo de cavalinhos. A gente entra e assenta-se num banco, ou amontoa-se em riba desses animais como se fossem mesmo a valer. E lá, numa cabina, há um homem que carrega num botão, e então aquela balhana começa às voltas e voltas, uma coisa por demais, até voltar outra vez a parar. E dá-nos um ventinho na cara que é uma beleza, por causa do galope dos cavalos e da outra bicharia, e dos bancos, tudo em corrida desembestada, e sobe-que-desce, e sobe-que-desce, é preciso a gente agarrar-se muito bem, quando não podemos trambolhar lá em baixo. As pessoas riem-se muito umas para as outras nessa alegria corrida, parecem mesmo palheiras soltas ao vento, ou pássaros fugidos nem sabe-se de quantos inimigos. Aquilo só visto se pode acreditar.
Idalécio Cação
http://www.youtube.com/watch?v=bdBMhX9GZpY
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