sábado, 20 de julho de 2013

O poder de mentir


Que orgulho: o meu neto Antoninho, com pouco mais de dois anos no mercado, já sabe mentir. Não para fugir ou para escapar às consequências do que disse ou do que fez, mas para encantar e comover, fazer rir e manipular.
A mãe e vítima dele, a minha filha Tristana, sendo mestra de cinto negro dessas artes, contou-me a artimanha do Antoninho com o brilho vaidoso de quem ama tanto que gosta de se deixar enganar.
Que esquema arranjou esse aprendiz de feiticeiro - imperador absoluto de todos quantos têm a sorte de se aproximarem dele - para manipular tão bem que toma conta dele?
A mãe indo buscá-lo à escola depois do trabalho dela, perguntou como ele tinha passado. O Antoninho, que está muito bem na escolinha onde está, respondeu, humorística e sadicamente : "Cho'ei".
Mas, quando a mãe, muito culpabilizada e comovida, por ter estado tantas horas longe do filhote, finalmente perguntou ao Antoninho "se estava a dizer que chorou só para a mãe sentir-se mais culpada", o Antoninho explodiu de alegria.
O Antoninho desatou a rir, com amor, como quem admira a sua própria pessoa, enquanto ama ainda mais quem enganou.
Aposto que, a primeira vez, o Antoninho chorou mesmo. Mas quando disse que chorou ("cho'ei"), aprendeu que falar é mais poderoso que chorar.

Miguel Esteves Cardoso
http://www.youtube.com/watch?v=jWWOMrrtNfw

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