domingo, 10 de novembro de 2013

Avó e Neto


Tinham ido à praia, porque estava uma manhã bonita. A avó vestia uma saia clara e levava o neto pela mão. Ia muito contente, e o seu coração cantava.
O neto levava um balde, porque se propunha apanhar conchas e búzios, como já fizera de outras vezes em que tinha ido à praia com a avó.
Ir à praia com a avó era uma das melhores coisas que lhe podiam acontecer nos dias livres. Por isso também ele ia contente, e o balde dançava-lhe na mão.
A praia estava como devia estar, com sol e ondas baixas. Quase não havia vento, e a água do mar não estava fria. Por isso o neto teve muito tempo de procurar conchas e búzios e de tomar banho no mar. A avó sentou-se num rochedo, e ficou a olhar para o neto, por detrás dos óculos. Nunca se cansava de olhá-lo porque o achava perfeito. Se pudesse mudar alguma coisa nele, não mudaria nada.
Estava uma manhã tão boa que também a avó tirou a blusa e a saia e ficou em fato-de-banho. Depois tirou os óculos, que deixou em cima de um rochedo, e entrou no mar, atrás do neto, que nadava à sua frente, muito melhor e mais depressa do que ela.
- Não te afastes, dizia a avó, um pouco ofegante. Volta para trás!
A avó tinha medo de muitas coisas: dos paus que podiam furar os olhos, das agulhas e alfinetes que se podiam engolir se se metessem na boca, das janelas abertas, de onde se podia cair, do mar onde as pessoas se podiam afogar. A avó via todas esses perigos e avisava. Ele ouvia, mas não ligava muito. Só o suficiente.
Não tinha medo de nada, mas, apesar disso, gostava de sentir o olhar da avó. De vez em quando voltava a cabeça, para ver se ela lá estava sentada, a olhar para ele. Depois esquecia-se dela e voltava a ser o rei do mundo.
Por isso se sentiam tão bem um com o outro.

Teolinda Gersão
http://www.youtube.com/watch?v=Z94aL-hrrYQ

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