segunda-feira, 7 de julho de 2014
Restos
Debaixo da estrada de asfalto houve um
caminho de terra. Onde hoje passam automóveis, passaram
carroças puxadas por mulas. Onde o tempo se mede
em quilómetros, o tempo era contado pelo movimento
do sol no céu de onde caía um calor inclemente. E
debaixo do caminho de terra ainda houve uma via
de pedra, e quase se poderia dizer que a cada pedra
correspondeu a vida de um escravo. Por ali passaram
legiões que trouxeram, atrás delas, comerciantes
e juristas. E depois delas vieram os bárbaros, cortando
braços e cabeças por ócio e pressa. Nada disto se vê,
porém, quando se acelera para chegar mais depressa
à auto-estrada. E só o velho que se encosta a um muro,
olhando para sítio nenhum, conserva nas rugas do rosto
as memórias que se perderam.
Nuno Júdice
https://www.youtube.com/watch?v=1KgpoIwtwJs
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