segunda-feira, 20 de abril de 2015
Muranzel, ria de Aveiro
Respira fundo e vê - não é mentira:
os pirilampos voam e acendem
sonhos que não morreram
sobre esta água exausta onde ainda dorme
a tua infância.
Respira e ouve os peixes quando saltam
e fogem e refulgem
por entre as algas de cabelo verde
em busca de uma vida sem razão
que também move as tuas células
e te mostra de novo os mesmos rostos
de primos, tios e demais família
enquanto a noite no café do Guedes
fazia despontar essas paixões
talvez próprias de agosto, mas que doem
exactamente como as outras.
Agora já não passam moliceiros
e as distâncias parecem-te mais curtas
mas não te vás embora:
respira ainda, só mais uma vez,
atravessa num golpe de destino
a noite desse mundo que foi teu.
Respira fundo e vê: não faças caso
dos casais de turistas que aproveitam
este resto de junho, enquanto bebem
uns copos no terraço, sacudindo
mosquitos sorridentes. Fecha os olhos
e diz como o Assis: "ao tempo que isto foi!"
Fernando Pinto do Amaral
https://www.youtube.com/watch?v=xVxImv7PsR4
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