domingo, 17 de maio de 2015
A sombra do passado
Ó serra das divinas madrugadas,
Das estrelas, das nuvens e do vento
E das águias enormes, chamuscadas
De chegarem tão próximas do sol!
Ó trágico Marão! Ó serra esfíngica
De muda, triste, e austera face humana,
Com a cauda ondeante sobre o Minho
E as garras sobre a terra transmontana!
Ó velhas criaturas bem amadas
Já sepultas na eterna escuridão,
Vinde a mim! Vinde a mim! Nunca deixeis
De povoar a minha solidão!
Comigo divagai por estes ermos,
Onde ao menos eu sinto, meus Avós,
Esta alegria imensa de me ver
Quasi fantasma e sombra como vós!
Velhinha casa! Ó portas oscilando,
Desconjuntadas já das mãos do vento,
E amolecidas do contacto brando
Dos longos dedos húmidos da chuva.
Tristes ruínas que a Volúpia faz!
A volúpia do Tempo sensual
Que tudo abraça e beija e tudo funde
Em seu peito quimérico e espectral...
Para que tudo, em novo sentimento,
Em novo amor mais alto e mais profundo,
Em alegria nova e nova dor,
Para outra vida, surja em outro mundo!
Teixeira de Pascoaes
http://www.jamor.eu/se/t/teixeira-de-pascoaes-1.html
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