Rasgaram águas sem fim.
Neto sou de quem n-o sou!
Se canto, é que o mar entrou
Faz ondas dentro de mim...
Queixas de longe, da História
Trágico-Marítima, ainda
Choram na minha memória,
E me obcecam da inglória
Lamentação que não finda...
Mortos, morrei! afogados,
Acabai de vos sumir!
Afundai-os, mares coalhados!
Ondas, abafai seus brados!,
Que eu quero poder dormir...
Quero encolher-me em descanso
Debaixo dos cobertores,
Dormir um soninho manso,
Numa cama sem balanço
Nem gelados vis suores...
Quero ser eu, simplesmente,
Sem tal Passado nos ombros
E tais Futuros na frente
Que o meu claro olhar vidente
Se ofusque de febre e assombros...
José Régio
(painéis de Almada Negreiros)
https://www.youtube.com/watch?v=Nb_S58E7dd0
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