sábado, 2 de dezembro de 2017

The Sixties



Na ressaca da visita à exposição “A Revista Aspen, 1965-1971”, na Culturgest:

Minimal, pós-minimal, conceptual, pós-conceptual, psicadelismo and so on. Que sei eu? Quase nada. O que aprendi? Muito pouco. “O que faz falta é agitar a malta o que faz falta…” (José Afonso, 1972)

E em Portugal como foram os anos 60?

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.


Fernando Tordo / Ary dos Santos, 1973

Stop! Essa canção não é da década de 60. Tão bonita que apetece cantar mas como diz o poema de Miguel Torga:

“Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.”


Na verdade, a censura imposta pelo regime político pretendia manter-nos isolados, parados no tempo e, por isso, tentava impedir a divulgação de quase tudo o que se passava no estrangeiro, para nos proteger de más influências que pudessem gerar contestação.
Até aos anos 60, as artes e as letras em Portugal tinham a língua e a cultura francesas como referência. A partir dessa data assiste-se a uma mudança de paradigma. A cultura anglo-saxónica insinua-se e começa a ser muito apreciada e imitada pelos jovens. 
No campo da música, em Portugal, veja-se o caso do conjunto musical “Os Sheiks” que, além de interpretarem êxitos da música anglo-saxónica, cantavam a chamada música yé-yé. Estamos nos primórdios do rock português. O Quarteto 1111, formado por José Cid, era um projecto bastante arrojado e ficou célebre principalmente pela canção que começava: 

“ Depois de Álcácer-Quibir
El rei D. Sebastião
(oh, oh, oh…)

Perdeu-se num labirinto
Com seu cavalo real
(oh, oh, oh...)


De referir que o Festival de Vilar de Mouros, em 1971, o nosso Woodstock, contou com a participação de grandes nomes da música internacional, como Elton John, além de bandas e cantores nacionais, o que atraiu um grande número de jovens estrangeiros, muitos deles “hippies”. O facto de Vilar de Mouros se situar num local de difícil acesso, longe dos grandes centros urbanos, no meio da natureza, uma espécie de paraíso, acabou por contribuir para o ambiente especial que se criou, o encantamento de que falam todos os portugueses que estiveram presentes, porque nem em sonhos acreditavam que tal pudesse acontecer no nosso país! 

Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer 

 Manuel Freire / António Gedeão, 1969                                                                               (continua)

HN, 30/11/2017
(em homenagem ao Fernando a quem, por motivos óbvios, pertencia o cartaz acima reproduzido)
https://www.youtube.com/watch?v=y1tydtIldYU

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