quarta-feira, 27 de março de 2019
Há muito
Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vaza
Sophia de Mello Breyner Andresen
(pintura de Sorolla)
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/o-amor-de-sophia-pelo-mar-da-granja_v749565
domingo, 17 de março de 2019
Nascer
Estou num lugar muito elevado e livre, onde o horizonte é praticamente infinito e é muito alto o nível de percepção que julgo ter.
É por isso que me assusta a certeza de que, no momento em que se nasce, se atravessa uma espécie de barreira, onde todo o conhecimento que possuíamos se apaga.
Recomeça-se então do ponto zero, ignoramos absolutamente tudo, porque (ainda) não pertencemos àquele lugar. Chegamos portanto numa situação de fragilidade extrema, de extremo desamparo, à mercê do desconhecido. Sofremos, por conseguinte, uma queda, uma humilhação sem medida por descer de nível, e aceitamos à força a carência e a dor. O primeiro momento é um grito...
Por mim não desejo entrar nessa aventura louca, prefiro mil vezes permanecer onde estou agora. A vida lá em baixo não é compreensível. Asseguram-me que pode ser muito bela e oferecer grandes compensações, mas não quero acreditar nisso.
Por isso me deixo ficar, apenas olhando, aqui de cima. É essa a minha decisão, a minha escolha está feita.
Mas há um vento que vem não sei de onde e nos empurra, contando-nos segredos inquietantes. Convence-nos de que a solidão e o vazio estão aqui, enquanto lá em baixo há o tempo, a mobilidade e a vertigem. E o prazer da vertigem, de experimentar a vida e conhecer a experimentação.
Aqui tudo está imóvel e adormecido: no lugar do tempo há apenas um instante, sempre igual e sem fim.
O vento assegura-nos que o tédio nos invade, que a nossa solidão é sem remédio, que precisamos de estender a mão e de encontrar outra mão que segure a nossa.
E um dia não aguentamos mais e descemos...
Quisemos entrar no mundo inferior e atravessá-lo, numa existência humana. Naturalmente muito breve, mas a brevidade pareceu-nos também um atractivo.
Também a vida de uma borboleta só dura um dia: começa quando o Sol nasce e acaba quando a noite cai. Mas entretanto ela atravessou a existência que lhe estava destinada, cheia até ao limite de experiências novas.
Quando se morre volta-se de novo para aqui, transformado em ar. É dos que voltaram lá de baixo que é feito o vento que aqui sopra e nos canta segredos aos ouvidos...
O vento assegura-nos que o tédio nos invade, que a nossa solidão é sem remédio, que precisamos de estender a mão e de encontrar outra mão que segure a nossa.
E um dia não aguentamos mais e descemos...
Quisemos entrar no mundo inferior e atravessá-lo, numa existência humana. Naturalmente muito breve, mas a brevidade pareceu-nos também um atractivo.
Também a vida de uma borboleta só dura um dia: começa quando o Sol nasce e acaba quando a noite cai. Mas entretanto ela atravessou a existência que lhe estava destinada, cheia até ao limite de experiências novas.
Quando se morre volta-se de novo para aqui, transformado em ar. É dos que voltaram lá de baixo que é feito o vento que aqui sopra e nos canta segredos aos ouvidos...
sábado, 9 de março de 2019
Há alguem mais belo do que eu?
A BELA ADORMECIDA NO ESPELHO
Há uma mulher mais bela que eu?
olhar doce
azul turquesa
abertos à força do rímel?
olhos que não vêem
coração que não sente
fotografia em movimentos
suaves, suaves, suaves.
Do outro lado
pano de fundo
o mundo.
Retorno
contorno a boca
por dentro, catatonia
não se transparece
na aparência oca.
Ombro reto
sobrancelha arqueada
falta pouco
para ser amada
caricatura, minha cara
ranhura na moldura
essa ruga
não devia estar aí
se multiplica
contra a vontade
no tempo gasto
para não deixar
aparecer o tempo.
me diga espelho meu
Alice Ruiz
(imagem publicada por Dan Cretu)
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