Maio de 68, Paris. Tudo começa com os estudantes
que ocupam as faculdades e as ruas de alguns bairros de Paris. Exigem a reforma
do ensino, contestam todo o tipo de preconceitos e autoritarismos. É o tempo do
“É proibido proibir”. Os trabalhadores aderem à revolta, o país paralisa. A França
treme.
Por cá, em 1969, os estudantes de Coimbra em greve resistiram
durante bastante tempo à chantagem e perseguição das autoridades que, através
da censura, controlavam toda a informação.
Apesar de algumas proibições, ouviam-se muito as baladas
e canções de intervenção. Por isso através delas podemos reviver todo o
processo do 25 de Abril.
“ O que faz
falta é agitar a malta/ o que faz falta…” cantava José Afonso.
Do exílio Manuel Alegre escreve e Adriano Correia
de Oliveira interpreta: “Pergunto ao
vento que passa /Notícias do meu país… Mesmo
na noite mais triste/Em tempo de servidão/Há sempre alguém que resiste/Há
sempre alguém que diz não.”
Vários cantores criticam
a guerra colonial cantando: “Menina dos
olhos tristes/o que tanto a faz chorar/o soldadinho não volta do outro lado do
mar.”
A PIDE perseguia,
prendia e muitas vezes torturava os opositores ao regime. A canção “Vampiros”
de José Afonso lembra essa realidade: “No
céu cinzento sob o astro mudo/ Batendo as asas pela noite calada/Vêm em bandos
com pés veludo/Chupar o sangue fresco da manada… Eles comem tudo/e não deixam
nada.”
Mas nunca se perdeu a esperança, diz o poema de António Gedeão e canta
Manuel Freire: “Eles não sabem nem sonham
/que o sonho comanda a vida…”
Em 1971, nos álbuns de José Mário Branco “Mudam-se os tempos, mudam-se
as vontades” e de Sérgio Godinho “ Sobreviventes” pressente-se a revolução.
Sérgio canta: ”Aprende a nadar
companheiro/que a maré se vai levantar/que a liberdade está a passar por aqui…”
E finalmente a revolução, o 25 de Abril de 1974:
“Esta é a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo/Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo” (Sophia de Mello Breyner Andresen)
Foi inesquecível. O povo saiu à rua para saudar a revolução ao som de
“Grândola Vila Morena”, de cravo na mão. “A poesia está na rua” lia-se num cartaz
de M. H. Vieira da Silva. Agora os portugueses já podem reunir-se e participar em
manifestações. “O povo unido jamais será
vencido” grita-se.
E todos cantávamos com Sérgio Godinho:
“Ai, só há
liberdade a sério/Quando houver/A paz, o pão/Habitação, saúde e educação…”
Pois… 50 anos depois esta canção continua actual!
HN