Minha mão tem manchas,
pintas marrons como ovinhos de codorna.
Crianças acham engraçado
e exibem as suas com alegria,
na certeza - que também já tive -
de que seguirão imunes.
Aproveito e para meu descanso
armo com elas um pequeno circo.
Não temos protecção para o que foi vivido,
insónias, esperas de trem, de notícias,
pessoas que se atrasaram sem aviso,
desgosto pela comida esfriando na mesa posta.
Contra todo artifício, nosso olhar nos revela.
Não perturbe inocentes, pois não há perdas
e, tal qual o novo,
o velho também é mistério.
Adélia Prado, prémio Camões 2024
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