sexta-feira, 4 de março de 2011
Tuyutuya
"Acha que suportaria viver para sempre?" Tuyin não hesitou: "Claro que sim", garantiu. "Está bem, mas, antes de qualquer coisa, vamos fazer um teste", disse Tizanu. "O sono é uma espécie de morte provisória, um ensaio da morte. Se for capaz de dispensá-lo durante sete dias consecutivos, proporei aos deuses que transfiram minha imortalidade para você." Tuyin concordou mas, antes que se completassem quatro dias de vigília, adormeceu. Desapontado, tomou o caminho de volta para a sua cidade.
Vinha triste e chegou a Tuyutuya ao rair do dia. Mas ao deparar-se com a cidade orvalhada, sob a claridade do amanhecer, sua tristeza acabou. Ficou ali contemplando-a: Tuyutuya parecia sorrir-lhe, acolhedora. Um galo cantou glorioso: outro, mais distante, respondeu. Enternecido, Tuyin viu as primeiras pessoas saírem das casa, com seus instrumentos de trabalho, e rumarem para o campo. Demorou-se um pouco mais olhando de longe os muros patinados, as paredes das casas, os telhados, as janelas ainda fechadas. As coisas todas pareciam tocadas de eternidade. Aquela era a sua cidade, tudo o que ali vivera se impregnara na caliça das paredes, na madeira das portas, na pedra das calçadas. "A existência é para sempre em cada momento", pensou, invadido por uma renovada alegria.
Assim, atravessou a ponte levadiça e penetrou em Tuyutuya, reconciliado com o seu destino de homem.
Ferreira Gullar
http://www.youtube.com/watch?v=5menXv-eZbY&feature=related
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