domingo, 4 de março de 2012

Em Drave, 1997


Sobre a respiração da terra, ao longe,
o vulto negro, dobrado, de mulher.
Traz às costas todas as casas da aldeia
e empurra sozinha a sombra de um arado.
O ritmo é cadenciado, lento, monótono,
de imprevisíveis paragens nos portais do tempo.
Toda a terra é sua e suor
toda ela é terra, marcada,
abanada por secas e temporais.
Terra há muito sem primavera
desprovida de cio e parto de flores.
Seus canteiros de xaile preto têm raízes apenas.
Terra sem verões, também,
seca, morna, terra pálida
onde pássaros se ausentam da brisa fresca matinal.
Seu corpo é o inverno carregado de vendavais,
saias de nuvens pretas roçando a lama
como uma árvore embalada de outono
de seiva branda e espargindo lume.

Maria José Castro
http://www.youtube.com/watch?v=L9RifuYKvFo

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