segunda-feira, 12 de março de 2012

Linha do Estoril


Fui ter com o mar. Das vezes que cedo ao impulso e satisfaço saudades do mar a sério, o das marés vivas que afrontam as praias desertas, sinto, diante da paisagem turvada e violenta, revigorar-se todo o meu ser como se o banho de maresia fosse o grande tónico para prolongar a vida.
Num paredão em grandes letras: AMAR O MAR. É um programa, uma interpelação, um desafio. Às vezes os grafitis acertam no que enunciam de forma ostensiva, irrecusável. Lembro-me de ter apontado um tão afirmativo que não admitia contestação: AMAR É NÃO TER MEDO. Li-o em Coimbra, há anos, perto do Jardim Botânico.
Apeteceu-me, agora, associar os dois, decerto escritos em tempos diferentes, por pessoas diferentes, pensando coisas diferentes. Aí vai: AMAR O MAR É NÃO TER MEDO. O que quer que isto queira dizer, parece, à primeira leitura, tão óbvio que não merece mais comentários. As vagas incessantes, as ondas a explodirem, a vibração do ar, tudo nos arrasta para a ideia de que a terra é um frágil tapete, um litoral apetecível à mercê da conquista das águas. Elas irão recuperar o que já lhes pertenceu. Dela ascendemos, genuína mãe da natureza terrestre. O mar é a expressão mais cabal da eternidade. Amá-lo é não ter medo das forças contraditórias da vida. Em última análise, não ter medo da morte.

António Torrado
http://www.youtube.com/watch?v=stcQlmM941k

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