Ela procurava alguma coisa que não era da ordem das
palavras, embora só pudesse transmiti-la em palavras, algo talvez comparável à
música embora não equivalente. Ondas de energia, que se organizavam numa determinada estrutura
– sim, talvez se pudessem pôr as coisas nesses termos, não sabia ao certo.
Havia como na música uma liberdade e um determinismo – a última frase de um
romance, por exemplo, estava já contida na primeira. Era sempre o tom que
decidia tudo. Uma vez encontrado, tornava-se uma chave. Uma clave. Nos
verdadeiros romances o essencial era, até certo ponto, previsível.
A questão era sempre a mesma, repetia a mulher. Não importava o que se tinha pela frente, o
teclado, o mundo, o Minotauro ou a esfinge. Algumas pessoas eram feitas para
desvendar enigmas, passariam a vida a
tentar. O que seria mais suportável se pudessem fazê-lo também em nome dos
outros, porque então não estariam sós, a tarefa seria colectiva. Se as pessoas
formassem uma comunidade.
Era tudo uma
ilusão, pensou. O mundo talvez não fosse um cosmos, um universo ordenado. Provavelmente
não tinha medida, nem escapava ao caos.
(Ela caindo
dos mundos, de esfera em esfera, presa por um pé. Descendo vertiginosamente
através dos planetas. Em cada um uma sereia olhando.)
Ela também
não tinha medida nem fronteira. Estava presa à existência, mas não fixada nela.
Cada um
estava só, pensou. Não havia respostas em nenhum lugar. Nem havia mestres,
porque também não havia verdades, nem caminhos.
Cada um tinha o seu próprio caminho. Embora às vezes, fugazmente, as
pessoas se cruzassem – e esse era um instante fulgurante, como se uma luz se
acendesse.
Teolinda Gersão
http://www.youtube.com/watch?v=0iewd3kBRIc
http://www.youtube.com/watch?v=0iewd3kBRIc
Boa tarde D. Helena, surpresa...estou de volta. E tenho estado igualmente de volta dos seus trechos, sempre galante e rigorosamente escolhidos, denunciando paixoes diversas. Hoje nao ha comentario, para o fazer preciso de tempo e ideias para rascunhar, apenas este bem-haja pela continuidade do seu blog aliado a condiçao mais que perfeita de super Avo.
ResponderExcluirBeijinho, Hilda