domingo, 10 de fevereiro de 2013

O mais importante


2ª feira, 4 de outubro
Montagem. Uma obra face a outra obra, vizinha de outra obra, distante de outra obra. Recorre-se sempre a soluções parciais. Porque na montagem de uma exposição deve manter-se sempre um sentido enigmático sobre o que é mostrado, para que quem visita parta à procura de mais sobre o autor, sobre relações, sobre elos; e sobretudo sobre o que lá não foi dito e que não está mesmo na obra, mas que é já o domínio imaginário e criativo (ou somente informativo ou formativo) daquele que foi visitante. O mais importante é o que fica por concluir, o que não é dito, o que não é mostrado. Quanto à Obra de um artista, a sua Representação, a sua Existência, ela ultrapassa quer o domínio da vontade quer o domínio dos fenómenos e o do conhecimento. Inscreve-se curiosamente (assim o entendo muitas vezes) entre uma vontade de viver e uma negação de uma vontade de viver.
A obra de um artista é uma maneira de produção absoluta, mas o nosso conhecimento sobre ela é particular e profundamente relativo. O próprio artista tem um pensamento que a atravessa, mas não terá um domínio inteiro sobre o seu espaço e sobre o seu tempo. Há sempre, por todos os lados, por todas as partes, que respeitar-lhe o mistério. E, no entanto, o mais importante, o mais grave, o mais produtivo (útil e inútil a um só tempo) é afrontar o seu enigma, o enigma da sua feitura.

João Miguel Fernandes Jorge

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