domingo, 9 de junho de 2013

As visitas


Caem co'a calma as aves intermináveis do passado,
os tentilhões, as poupas, os noitibós,
crianças cegas e desamparadas
também elas, agora que se perderam de nós.

Anjos sonâmbulos pousados no telhado
das noites de insónia (espécie de curvatura
da insónia para dentro de si
sobre paisagens desabitadas).

Onde se refugiará de dia
a sua alada materialidade,
em que desvãos da realidade ou da literatura,
entre restos de coisas que li:

Sá de Miranda (caem co'a calma as aves),
Junqueiro (as andorinhas da infância),
e dias errantes, casa vazias,
camiões de mudanças,

remorsos, lentas estações:
e aves, agora como eu
desprovidas de centro e de tempo
agora, como eu, apenas emoções?

Manuel António Pina
Sabugal, 6/8/11
http://www.youtube.com/watch?v=Xl71VPq6LiE

Nenhum comentário:

Postar um comentário