domingo, 2 de fevereiro de 2014
Neto-Avô
Quando eu estou num bando alegre de crianças,
Ou num grupo de bons e trémulos velhinhos,
Sinto uma paz estranha: eu vejo pombas mansas
Com ramos de oliveira a arquitectar os ninhos.
Ao pé dos velhos sinto um mórbido desmaio,
Mas, se as crianças vêm, renasce-me o vigor;
Porque elas são a flor das árvores em Maio,
E os velhos são o Outono, as árvores em flor...
Contudo ao ver, em torno, as criancitas belas,
Brincando como uma ave, a rir como as andorinhas,
Os velhos a brincar e rindo como elas,
Transformam-se, bom Deus! Em velhos-criancinhas.
Os velhos são o inverno, a infância é o sol ardente:
No entanto, apesar disso, ao ouvi-los falar,
Eu sinto-me feliz e regalado e quente,
Como ao pé dum bom fogo, entre a expansão dum lar...
Inflamo-me, se escuto as suas idas glórias,
Com que guerreiro amor brandiam as espadas!...
E às crianças, então eu conto-lhes histórias,
Em que entram moiras, reis e príncipes e fadas...
De modo que hesitante, ó murchas esperanças!
Entre a velhice e a infância, entre esses dois caminhos,
Penso que sou avô, ao lado das crianças,
E julgo-me criança, ao lado dos velhinhos...
António Nobre
http://www.youtube.com/watch?v=A86rdOJzcgY
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