sábado, 30 de abril de 2016
Moreninha alentejana
Moreninha alentejana
quem te fez morena assim
Foi o sol da Primavera
que caía sobre mim
Que caía sobre mim
que andava a ceifar o trigo
Moreninha alentejana
porque não casas comigo
Porque não casa comigo
Porque não casas com ela
Quem te fez morena assim
Foi o sol da Primavera
Cancioneiro popular
(desenho de Manuel Ribeiro de Pavia)
https://www.youtube.com/watch?v=mdQRcUsohbo
terça-feira, 26 de abril de 2016
O meu Alentejo
Doirando tudo. Ondeiam nos trigais
D`oiro fulvo, de leve...docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o oiro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros...
Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
Florbela Espanca
(pintura de Francisco Relógio)
https://www.youtube.com/watch?v=iWlW--Xs2bc
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Aparição
Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de fim de Verão entra pela varanda, lava o soalho numa pureza irreal, anterior à minha humanidade e onde, no entanto, sinto presente uma parte de mim. O céu é húmido e fresco como uma nudez, o ar satura-se ainda desse aroma genesíaco que as chuvadas ergueram da poeira do Estio. É bom estar aqui, neste abandono, todo aberto a estas vozes de indício, a este trémulo aviso de uma verdade primordial. Instante perfeito da totalidade presente,aureolando tudo o que me é degradação... Dou a face inteira à inundação da lua, que me escorre por este corpo perecível, o trespassa do seu fluido de eternidade, o transmigra ao país da legenda.
Vergílio Ferreira
(pintura de Luís Dourdil)
https://www.youtube.com/watch?v=s4M67HeJLss
https://www.youtube.com/watch?v=s4M67HeJLss
sábado, 9 de abril de 2016
Construtores de quintas
no altar da nora enferrujada,
edificávamos quintas.
Lâminas de xisto erguiam paredes,
lama de rio as agregava,
palitos serviam de portas e cancelas,
seixos demarcavam o redil
onde bugalhos baliam sem boca,
cascos ou lã que se visse.
Para o final o jardim:
flores sem nome a toscos muros arrancadas.
Tão magros ambos a pele tão clara
e na lama os braços confundidos.
Velho que erguesse os olhos da sueca
às arcadas do rio,
tomar-nos-ia decerto não por duas
mas por uma só criança
afogada.
Rui Laje
(pintura de Maria Keil)
https://www.youtube.com/watch?v=_Fmrk3aDhSM
domingo, 3 de abril de 2016
Letra aberta
quisera apenas que uma urgência das coisas
as reclamasse, uma veemência,
uma potência das coisas,
e aí acabasse a sua breve música
mas já que a mim me devastava
que a ti te devastasse
leitor sempre inimigo
como o fogo cria assim a sua própria sombra
Herberto Helder
(desenho de Pedro Calapez)
https://www.youtube.com/watch?v=aOkJL3il5WQ
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