segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Romance do tempo inocente


Era um tempo de ritos no rito das estações.
Um dia atirei pedras às estrelas
joguei o meu pião no pátio do luar
rasguei as calças do vento parti os vidros da noite.

Nada sabíamos da guerra nesse tempo
nada sabíamos da fome e nunca 
reparámos no rosto magro dos meninos
que cheiravam aos caminhos no largo da velha árvore.

Nada sabíamos dos homens que viviam
do trabalho dos homens que não tinham casa.
Acreditávamos que não ter casa era ser livre.
Era um tempo de grandes gestos belos e gratuitos.

Havia o mar. Raparigas da terra da saudade.
Era um tempo de fruta e violinos
um tempo de ser nu nas águas quentes do verão.
Porque nós tínhamos a idade de não ter idade.

Manuel Alegre
Pintura de Nuno San-Payo
https://www.youtube.com/watch?v=D_naXf_c6As

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