há lugares de onde o tempo não deserta,
como se tudo neles fosse
o regaço, e o nome,
de um murmúrio muito antigo.
havia panos de linho nas janelas
e uma voz que nos chegava,
pela luz,
em passos de deixar pegadas.
sentado no primeiro degrau de subir,
um menino apagava a noite molhando a terra;
"é água de aurora", disse
para os meus olhos,
e abriu os riscos da sina
dentro da palma da mão.
não entrei na casa,
não tinha as mãos lavadas
para bater à porta.
ao fundo do jardim,
perto de quatro paredes de guardar o Céu,
um anjo jazia com pouco respirar.
"levanta-te, e caminha", pedi-lhe,
e dei-lhe uma palavra de matar a sede.
"regaste as rosas, meu amor?",
ouvi alguém, ao longe, perguntar.
Emanuel Jorge Botelho
Pintura de Urbano
https://www.youtube.com/watch?v=ybcLzehFpXA
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