Vejo o Passado reviver,
Porque em meu coração
Tudo é ressurreição,
Amanhecer...
E vejo aquelas almas esperando,
Doidas de luz, seu próprio nascimento...
Nas nuvens já descubro as fontes marulhando
E a brisa, para mim, é já tumulto e vento.
Saio do velho lar escuro de abandono.
Cá fora, o céu azul dá nova graça
Às árvores despidas pelo Outono,
Ao passarinho, flor etérea que esvoaça...
E vejo a antiga fonte: os dois golfinhos
E o nicho donde outrora
Um santo contemplava os passarinhos
Voando, à flor da aurora.
E, nas frestas antigas da parede,
A harmoniosa e límpida frescura
Que nos desperta a sede,
Pousava em alegrias de verdura...
Vejo a nossa ramada, ao longo do quintal:
Claustro de folhas mortas, a cair...
Leva-as, no seu regaço, o zéfiro outonal;
Nadam nos charcos de água...
Vestem de oiro mortal a dura frágua;
Outras, no Azul, vão ser estrelas a sorrir...
Teixeira de Pascoaes
https://www.youtube.com/watch?v=sKkk7vjSdeg&feature=youtu.be