Comecei a ouvir a Musa quando ia fazer 23 anos. Antes não ouvia a Musa. Eu sei que falar assim parece banha de cobra. Mas não é. Já contei isto muitas vezes. A minha gata tinha desaparecido, eu estava muito triste, aflita. De repente na minha cabeça estava um poema sobre a gata. Peguei na caneta e na esferográfica e escrevi. Ouvir a Musa não é só ter prazer em escrever, ter ideias ou imagens como eu tinha aos 11 anos. É aparecer o texto na cabeça vindo não sei de onde. E a minha gata apareceu. Não são os textos que me interessam, quero lá saber da Musa. Quero é a gata, o afecto, a vida, a gata.
Ouvir a Musa é desgastante, um frenesi. Volto a escrever como aos 11 anos, quando andava no segundo andar do autocarro da Carris. Tenho 60 anos adolescentes.
7-VI-2020
Adília Lopes
Pintura de Pierre-Auguste Renoir
Nenhum comentário:
Postar um comentário