Deixa o pão aberto sobre a mesa. Vê de novo
as searas, os campos descobertos, os sulcos,
a poeira também. Presta atenção. Mais uma vez
procura aquilo de que te alimentas, o seu gosto
ou a prece que devagar pronuncias. É só no interior
dele mesmo que se conserva a temperatura
com que o fizeram, o ar ainda aquecido. Desconhecemos
como chegou o fermento, o modo como outrora
tinha germinado. Não te importes...Leva-o à tua boca,
depois fecha os olhos para assim encontrares
uma outra imagem, as feições desconhecidas
que nele existem. Vê a sua cor, estas sombras,
o contorno cada vez mais simples em que se pode
tocar. Não o sabias? O pão tem um rosto.
Fernando Guimarães
Pintura de Josefa de Óbidos
Pintura de Josefa de Óbidos
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