sábado, 27 de março de 2021

Quando já principia a anoitecer

Que é dos chícharos de flores azuladas que não voltei a ver?

Que é desse meu colchão de palha de milho

das cadeiras a pau na pedra do lar

do cheiro a rosas e a saias novas

na minha aldeia nas férias da páscoa?

Onde estão hoje os cerrados de milho já embandeirado?

Onde a repentina explosão daqueles botões brancos

da macieira recortados nos montes em frente

botões exuberantes como coisas que não tardam a morrer?

(...) Durmo cego no mais secreto mar

creio que ao longe já começa a anoitecer

não estou triste são só horas de jantar


Ruy Belo
Pintura de Amadeo de Souza Cardoso

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