Talvez a ti apenas
condutor veloz
e desabrido
que decerto vai
já bem longe,
a acelerar, eu deva
agradecer a minha
queda, este derrame
súbito na berma
de uma estrada de província
arborizada. Aqui,
meio das ervas,
a bicicleta adiante,
caída igualmente
pelo chão,
roda desfeita
do embate contra
a árvore próxima. De
aqui, da queda,
outro olhar
me surpreende,
outra consciência
toma conta
de como a tudo
vejo. As árvores
em volta, o asfalto
desgastado, macilento,
o verde esmaecido
dos campos serenos
da colheita, a própria
luz da tarde,
enquanto um solitário
pio corta o
seu silêncio. Talvez
eu deva agradecer-te,
se, por vezes,
ficar caído tem
uma qualquer doçura
de interromper o esforço,
romper de vez
a fantasia tonta,
inconsequente, de
permanecer
no movimento.
Bernardo Pinto de Almeida
Pintura de Magritte
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