Poderia regressar vendada, triunfantes
a porta, a chave e como rodá-la, os meus encontros.
a porta, a chave e como rodá-la, os meus encontros.
Aqui, o armário onde arrumei a primeira biblioteca
ali uma lição de círculos e de trópicos
a trajectória circular do meu Globo.
O que mudou mudou, o essencial ficou
inalterado - a secretária baixa, os cadernos
escritos com lápis da Viarco e uma borracha.
Por eles abri a porta a uma torrente inexplicável
feita de gente que nunca vi, nem conheci, mas
que fiz nascer e baptizei com nomes que trouxe
de cartórios ignorados e outros rostos(...)
Regresso a estes cantos e ponho as mãos
nestes lugares como se esta casa fosse um clone
prévio do meu corpo, e só descanso quando me
escondo entre os lençóis de linho em cuja superfície
quando era moça deixava nódoas cor de vinho.
Aqui, tudo o que bate à janela, como a chuva
desordenado e bruto, em escrito, não é produto
é uma chamada por alguém que está escondido
noutro mundo.
Lídia Jorge
Arte de Lourdes Castro
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