Nitidez de ondas que ascendem, embriagam
até à espuma do espaço. O inominável espraia-se
dissipando o insignificante, o turvo, o tépido.
Quase uma catástrofe ou as imagens de um sonho.
Mas o ritmo é soberano e simples e as perspectivas lisas.
As ondas derrubam as estátuas, os demónios e os deuses.
O ar fica brilhante e limpo na unidade do silêncio.
A igualdade estabelece-se no esparso e no diverso.
Frescura imensa do supremo, suspensão indefinida.
Equilíbrio ligeiro. A sabedoria apaga-se
no próprio ar que a incendeia. A respiração é transparente.
Tudo é incomparável mas tudo é simples.
Tocamos as teclas da terra com o orvalho do sol.
Vestidos de vento dançamos com o claro enigma.
Já não há fronteiras entre o abandono e a vigília.
Espáduas dilaceradas são agora tranquilas dunas.
Ouve-se o riso pacífico e dourado de marulhantes mulheres.
Tanta embriaguez clara, tanta ligeira liberdade.
António Ramos Rosa
Caricatura de João Abel Manta
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