Existe agora um novo cuidado: a paz.
Os soberanos que hoje se aconselham com seus ministros decidem, apenas por
sua vontade, se o grande massacre começará este ano, ou no próximo ano. Sabem
muito bem que todos os discursos deste mundo não impedirão, quando assim
decidirem, de mandar milhões de homens para o matadouro. Escutam com prazer
semelhantes dissertações pacíficas, encorajam-nas e delas participam.
Longe de serem nocivas, estas são, pelo contrário, úteis aos governos, porque
desviam a atenção dos povos e os afastam da questão principal, essencial: Deve-se
ou não submeter-se à obrigatoriedade do serviço militar?
"A Paz será dentro em pouco organizada, graças às alianças, aos congressos,
aos livros e aos opúsculos. Neste ínterim, enverguem seus uniformes e fiquem
prontos a, por nós, cometer e a sofrer violências", dizem os governos; e os doutos
organizadores de congressos e os autores de memórias pela paz aprovam.
Assim agem e assim pensam os cientistas desta primeira categoria. Sua atitude
é que mais proveito traz aos governos e portanto a que mais os encoraja.
O ponto de vista de uma segunda categoria é mais trágico. É o dos homens aos
quais parece que o amor pela paz e a necessidade da guerra são uma terrível
contradição, mas destino do homem. São, em sua maioria, homens de talento, de
natureza impressionável, que vêem e compreendem todo o horror, a imbecilidade
e toda a barbárie da guerra; mas, por uma estranha aberração, não vêem e não
procuram nenhuma saída para esta desoladora situação da humanidade, como se
deliberadamente quisessem revolver a chaga.
Leon Tolstoi (trad. de Celina Portocarrero)
Pinturas alusivas à invasão da Rússia por Napoleão:
“Batalha de
Borodino”, 7 de setembro de 1812, por Louis Lejeune (1822); “O fogo de Moscou”,
de Albrecht Adam; “Marechal Ney na retaguarda na batalha de Kaunas”, por
Auguste Raffet (1812); “Retirada francesa”, de Illarion Pryanishnikov .
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