quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Defesa da não-violência


Existe agora um novo cuidado: a paz.

Os soberanos que hoje se aconselham com seus ministros decidem, apenas por

sua vontade, se o grande massacre começará este ano, ou no próximo ano. Sabem

muito bem que todos os discursos deste mundo não impedirão, quando assim

decidirem, de mandar milhões de homens para o matadouro. Escutam com prazer

semelhantes dissertações pacíficas, encorajam-nas e delas participam.

Longe de serem nocivas, estas são, pelo contrário, úteis aos governos, porque

desviam a atenção dos povos e os afastam da questão principal, essencial: Deve-se 

ou não submeter-se à obrigatoriedade do serviço militar?

"A Paz será dentro em pouco organizada, graças às alianças, aos congressos,

aos livros e aos opúsculos. Neste ínterim, enverguem seus uniformes e fiquem 

prontos a, por nós, cometer e a sofrer violências", dizem os governos; e os doutos 

organizadores de congressos e os autores de memórias pela paz aprovam.

Assim agem e assim pensam os cientistas desta primeira categoria. Sua atitude

é que mais proveito traz aos governos e portanto a que mais os encoraja.

O ponto de vista de uma segunda categoria é mais trágico. É o dos homens aos

quais parece que o amor pela paz e a necessidade da guerra são uma terrível

contradição, mas destino do homem. São, em sua maioria, homens de talento, de

natureza impressionável, que vêem e compreendem todo o horror, a imbecilidade

e toda a barbárie da guerra; mas, por uma estranha aberração, não vêem e não

procuram nenhuma saída para esta desoladora situação da humanidade, como se

deliberadamente quisessem revolver a chaga.


Leon Tolstoi  (trad. de Celina Portocarrero)

Pinturas alusivas à invasão da Rússia por Napoleão:
“Batalha de Borodino”, 7 de setembro de 1812, por Louis Lejeune (1822); “O fogo de Moscou”, de Albrecht Adam; “Marechal Ney na retaguarda na batalha de Kaunas”, por Auguste Raffet (1812); “Retirada francesa”, de Illarion Pryanishnikov .



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