CASTRO MARIM
Lenda: O sapo e o mouro do castelo
Campo de numerosas batalhas, Castro Marim viu o seu castelo mudar de
bandeira um par de vezes. Ora hoje moura, ora amanhã cristã, ali há também um
alfobre de lendas de mouros encantados.Infelizmente a memória de muitas delas
perdeu-se, sobretudo no que se refere a pormenores. E ainda bem que Ataíde
Oliveira (1843-1915) entendeu coleccionar quanto pôde (e muito foi!) da tradição
algarvia. Não fora ele e nada saberíamos de um certo sapo.
Que sapo? Pois um que havia no
sítio da Espargosa, numa horta próxima de Castro Marim. Não era um sapo
qualquer, era um mouro encantado. Muita gente da vila o viu, mas a partir de
determinada altura, desapareceu. Tanto quanto se diz, desapareceu porque se
quebrou, por fim, o seu encantamento. Porém, nessa mesma hora foram vistas,
pela meia-noite, algumas mouras, pertencentes a outros encantamentos!
E também foram vistas ao meio-dia,
que é a hora em costumam pentear os seus cabelos com pentes de ébano, decorados
com embutidos naquele precioso metal. Houve quem as visse.
Por outro lado, os noctívagos de
Castro Marim, quando lançam o olhar pelas arruinadas muralhas da sua vila, às
vezes topam com um mouro a passear por lá. A lenda diz que o mouro era um homem
riquíssimo e que em tempos protegeu uma família, ainda que as pessoas se tenham
esquecido porquê! É o mouro do castelo e pronto.
Igualmente, registou Ataíde
Oliveira, que no arco de Herveira, ainda nas imediações de Castro Marim, ao
meio-dia e à meia-noite, mouros e mouras encantadas apareciam a quem por lá
passava.
Uma proprietária daqueles sítios,
certa noite, enfrentou-se com uma figura, a quem por diversas vezes atirou o
seu punhal, sem lhe poder acertar. Por outro lado, a tal figura também não a
conseguiu agarrar. Acabou esta por desaparecer e a senhora, ao chegar a casa,
viu que tinha o corpo como se lhe tivessem batido! As pessoas até diziam que
tinha sido uma luta da senhora, que se chamava, Ana Faísca, com um bicho
monstruoso, por causa do desencanto de um mouro. A senhora não negava a luta,
mas não aceitava a motivação....
Também para os lados das Vargens de
Belixe, reza outra lenda, que ao meio-dia, se escutava, «ais» lamentosos que
vinham do meio da terra.Muita gente lá terá ido ouvi-los, mas ninguém se deu ao
trabalho de averiguá-lo! Contava-se também nos serões desta vila a história dos
nove mouros encantados. O próprio Ataíde Oliveira diz que pediu a um amigo que
lhe arranjasse os termos da história, mas ele não consegui descobrir nada,
estava tudo esquecido! E o grande investigador algarvio atribui à acção dos
frades a culpa da destruição da memória destas lendas.
Diz a lenda que antigamente, no local que hoje se chama Azinhal, existia um nobre muito poderoso e que era dono de muitas terras e que esse nobre tinha uma filha muito bela e que estava habituada a satisfazer todos os seus desejos.
Um dia essa rapariga conheceu um jovem cavaleiro, que era também muito belo e por quem se apaixonou. Só que esse jovem jurara a ele próprio que nunca se havia de se apaixonar por ninguém e que queria ser livre para sempre.
Entretanto, o jovem não conseguiu resistir ao encanto da jovem e apaixonou-se mesmo por ela. Então, a rapariga, impôs-lhe como condição, antes de se entregar, que ele renunciasse à sua liberdade.
Então o cavaleiro, desesperado e sem saber o que fazer da sua vida, correu até um montado de azinheiras e ao chegar junto de uma árvore cravou um punhal de oiro no coração e morreu.
Diz-se ainda hoje que este jovem costuma aparecer durante a noite com o peito ferido e a sangrar e que também se ouvem suspiros e o choro de uma jovem.
A lenda diz também que os dois continuam a amar-se eternamente e que ela, sempre a chorar, vai fazendo, vai tecendo finas rendas para tentar estancar o sangue que sai do coração do seu amado.
Foi também a partir desta lenda que terão surgido as rendas de bilros que são também hoje muito conhecidas aqui na aldeia, que algumas mulheres ainda continuam hoje em dia a fazer.