Nem sequer chego a espantar-me por ser capaz de o fazer.
Um dos cavalos vem na minha direcção.
O seu nariz azul fareja-me levemente. Ponho o meu braço
em volta da sua crina azul, não para o prender, apenas
para estabelecer uma ligação.
Ele permite-me esse prazer.
Franz Marc morreu jovem, o cérebro rebentado pela metralha.
Eu preferia morrer a ter de explicar o que é a guerra
aos cavalos azuis.
Eles desfaleceriam, tomados pelo horror, ou simplesmente
não acreditariam nas minhas palavras.
Não sei como posso agradecer-lhe, Franz Marc.
Talvez o desejo de criar algo de maravilhoso
seja a semente de Deus que existe em cada um de nós.
Agora os quatro cavalos aproximam-se ainda mais,
inclinam as cabeças sobre mim
como se tivessem segredos a revelar.
Não espero que me falem, e eles não o fazem.
Se serem tão belos como são não é suficiente, o que
teriam eles a dizer?
Mary Oliver (tradução de Luís Filipe Parrado)
Pintura The large blue horses, Franz Marc
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