As raízes vão à frente. Puxam-nos para a frente.
Por vezes engrossam nos sapatos. Cheias de suor e cobertas de bocas.
Trazem os olhos cheios de noite e de formigas
e têm o peso de séculos de pão e morte, de mãe e cal.
Projectam-se para o sol em latidos de sangue
mas caem num fundo de chumbo ou numa imóvel sombra.
Crescem, crescem sempre com as cabeças feridas,
orfãs de um horizonte soterrado em escamas.
Ascendem à garganta com os dentes da terra
mas sustêm o grito como se fosse um osso.
Que querem elas dizer? Alegria, árvores,
astros? Ou a intensa sombra do silêncio?
Elas impelem-nos para a frente, para um futuro antigo
de lágrimas adolescentes e marinhas,
de rios juvenis, de grandes luas
e o coração late em águas vivas.
António Ramos Rosa
Escultura "Árvore da vida" de Alberto Carneiro
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