Borges e a Islândia
Desde a juventude, Jorge Luis Borges sentia um enorme fascínio pela beleza inóspita da chamada ilha do gelo e do fogo e pela sua literatura medieval, fundamental para a compreensão da mitologia nórdica.
Qué dicha para los hombres,
Islandia de los mares, que existas.
Islandia de la nieve silenciosa y del agua ferviente.
Islandia de la noche que se aboveda
Sobre la vigilia y el sueño.
Isla del día blanco que regresa
Joven y mortal como Baldr.
Fría rosa, isla secreta
Que fuiste la memoria de Germania
Y salvaste para nosotros
Su apagada, enterrada mitología…
Midgarthormr
Sem fim o mar, o peixe, essa serpente
tão verde e cosmogónica que encerra,
verde serpente e verde mar, a terra,
circular como ela. A boca prende
a cauda que lhe chega de tão longe,
lá do outro confim. O forte anel
que nos envolve é tempestade cruel,
reflexos de reflexos, sombras, sons.
É também a anfisbena. Eternamente
olham-se sem horror os muitos olhos.
As cabeças farejam brutalmente
os mil ferros de guerra e os escolhos.
Sonhado foi na Islândia. Os infinitos
mares viram-no e temeram-no entre portos;
regressará com o navio maldito
que vem armado com as unhas dos mortos.
Alta será a inconcebível sombra
sobre essa terra pálida no dia
de altos lobos e esplêndida agonia
do crepúsculo, aquele que não tem nome.
Mancha-nos essa imaginária imagem.
Vi-o no pesadelo mais selvagem.
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Nostalgia do Presente
Naquele preciso momento o homem disse:
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
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