quinta-feira, 1 de maio de 2025

Islândia 3


Origem dos Elfos

Segundo o folclore islandês cristianizado, um dia Deus visitou Eva, mulher de Adão e disse-lhe que no dia seguinte voltaria e queria conhecer todos os seus filhos. Eva ordenou aos filhos que se lavassem e vestissem a sua melhor roupa. Mas quando Deus chegou alguns ainda não estavam prontos. Deus perguntou a Eva:
- Estão aqui todos os teus filhos?
- Sim.
- São só estes? - voltou a perguntar Deus.
- Sim, não tenho mais nenhum. -  mentiu Eva.
- Aquilo que foi escondido de Mim, também será escondido dos homens. - disse Deus.
Para os islandeses essas crianças escondidas são os Elfos.








































 A Escola de Elfos, instituição de ensino em Reiquiavique, capital da Islândia, conta com mais de três décadas de existência. Entre histórias de folclore e encontros sobrenaturais, cerca de 10 mil alunos já por ali passaram desde que abriu em 1987, prontos para ouvir as histórias do reitor, Magnus Skarphedinsson. Com o seu ar bonacheirão, Magnus tem mesmo muito para ensinar, ainda que algumas das matérias fiquem ao critério do aluno: só acredita se quiser.

Antes de mais, é importante lembrar que desde tempos imemoriais  todas as comunidades contam com histórias sobrenaturais. Na Europa medieval houve quem morresse na fogueira por suspeita de ser bruxa ou até lobisomem. Do monstro do Lago Ness ao chupacabra, são muitas as criaturas misteriosas ou sobrenaturais de que ouvimos falar ao longo dos tempos.

Na Islândia, o folclore antigo é rico em histórias de elfos. E quando falamos de elfos não estamos a falar da pequenada que nalgumas histórias ajuda o Pai Natal com presentes, nem do povo que lutou na Terra Média nas histórias de Tolkien, em “O Senhor dos Anéis”. Ainda assim, há diferentes elfos a ter em conta.

“Coleciono histórias sobre experiências paranormais, fantasmas e espíritos e, ainda que nunca os tenha visto, estou convencido de que os elfos e as pessoas invisíveis, os huldufólk, existem”, contava o reitor numa recente entrevista ao britânico “Metro”.

Os huldufólk, entenda-se, são o povo oculto, os tais elfos que habitam as lendas da Islândia (e das vizinhas Ilhas Faroé). Estas crenças populares são tão antigas que certas construções islandesas foram feitas tendo o cuidado de não destruir rochas e grutas onde se acreditava que viviam.

Na verdade, estes elfos inspiram até pequenas construções como a que pode ver na imagem que ilustra este artigo. Este carinho dos islandeses não é acaso. Os elfos não são criaturas maléficas que se escondem nas sombras prontos para nos atacar. Segundo o reitor, “se alguém se perde na floresta, o povo oculto dá abrigo, se alguém está a morrer, eles dão comida, se estão doente, eles ajudam a curar”. Estes são alguns dos feitos que ao longo de séculos foram atribuídos aos elfos.

Há inúmeras histórias assim ao longo dos tempos no país, explica Magnus. Ele sabe do que fala. Segundo o próprio, já ouviu mais de 900 relatos de conterrâneos com histórias de encontros sobrenaturais para contar, além de outros 500 estrangeiros com histórias semelhantes.


As aulas na Escola de Elfos são em inglês (têm vindo alunos dos mais diversos países para assistir) e versam sobre o folclore, história e aquilo que se acreditam ser os hábitos dos elfos Aparentemente, há pelo menos 13 tipos diferentes, com os mais pequenos a começarem nos oito centímetros de altura.

As mesmas aulas versam sobre mais temas sobrenaturais, como histórias de espíritos ou trolls ou outras criaturas sobrenaturais ou eventos paranormais. Magnus, nascido em 1955, é licenciado em História da Islândia na Universidade Islandesa, a mesma instituição onde uns anos mais tarde se formou em Folclore e Antropologia.

Pedro Filipe Pina (texto com supressões)






BRASÃO DA ISLÂNDIA
De pé sobre um bloco de lava, o touro (Griðungur) é o protetor do sudoeste da Islândia, a águia ou grifo (Gammur) protege o noroeste da Islândia, o dragão (Dreki), a parte nordeste e o gigante (Bergrisi) é o protetor do sudeste da Islândia.





Território de dragões

Constava-se que,  num tempo inicial, voavam dragões famintos que devoravam tudo quanto lhes adoçasse as entranhas zangadas. Constava-se que, devastadas as coisas todas, os dragões haviam perdido a capacidade de voar e haviam parado exaustos um pouco por toda a parte. Arfavam e empederniam. Dizia-se que, de tão grandes e espessas peles, haviam radicado como montanhas de boca aberta. Passados infinitos séculos, alguns fumegavam ainda. Algumas bocas, no resto da raiva que continham, cuspiam fogo, já como dragões de pedra. Bichos gordos absolutamente feitos de pedra. Era engraçado olhar para as montanhas da Islândia e imaginar dragões acotovelados. Gigantes e cansados, mas talvez ainda ferroando-se e chamuscando-se uns aos outros por dentro. Culpados e culpando-se de terem tido tanta gula e tanta incúria.


Valter Hugo Mãe,  excerto do romance "Desumanização" inspirado na Islândia

https://www.youtube.com/watch?v=G3BU5kAMnms



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