Existe uma linha mágica que percorre o interior do território português constituída por serras, penedos mágicos, águas santas, bosques de carvalhos e tradições vivas que dão um vigor mágico, um "outro mundo", completamente desconhecido do homem das sociedades modernas. Esse território interior que passa pelas terras mágicas das Idanhas na Beira Baixa, perto da fronteira, é a raia mágica.
Paulo Louçã cita as declarações de um camponês destas terras de que muita coisa é de "antes do Dilúvio" e que a terra é purificada ciclicamente pelo fogo e pela água. É o tempo mítico das origens que emana das pedras sagradas.
A antropóloga Maria Adelaide N. Salvado refere que "(...)a forte luminosidade do seu céu, os longos e vermelhos crepúsculos do entardecer de estio nos seus largos e solitários horizontes, como que nos transportam ao começo dos tempos despertando, no mais recôndito de cada um de nós, uma paz e um profundo e vivíssimo sentimento de ligação e de adoração à natureza"
Se percorrermos o trilho da aldeia de Monsanto até ao sopé do monte, encontramos a ermida românica de S. Pedro de-Vir-a-Corça que fica num local totalmente isolado, rodeada de sobreiros e de grandes pedregulhos. A capela em si, bem como todos os outros vestígios do seu passado, são absolutamente impressionantes e únicos. Sentimo-nos invadidos pelo espírito do lugar, o genius loci. Aqui respira-se Sagrado.
A Capela de S. Pedro de-Vir-a-Corça
Esta capela está ligada à lenda de um ermitão chamado Amador.
Um dia, vendo-se uma matrona aflita com dores de parto, no seu desespero rogou que a criança mal nascesse, fosse levada, por todos os demónios, pelos ares. Assim aconteceu no meio de um estrondo enorme.
O ermitão Amador, que ali vivia, apercebendo-se do que estava a acontecer, pediu a S. Pedro que lhe entregasse a criança e a libertasse do poder infernal. Foi atendido o santo homem, que começou então a preocupar-se, sem saber como havia de alimentar o menino. Como por milagre surgiu uma corça que passou a sustentar a criança com o seu leite, quatro vezes por dia. O menino cresceu, tendo-se feito anacoreta como o seu protector e foi o fiel companheiro do ermitão até à sua morte. Terá sido sepultado sob o altar da capela, bem com mais tarde o seu protegido.
O lugar tornou-se depois local de romagem. A festa de Santo Amador tinha lugar no dia 27 de Março. Era venerado por toda a Beira e procurado para a cura de maleitas, bastando para tal trazer terra da sua sepultura ao pescoço
Esta capela é conhecida por S. Pedro de-Vir-a-Corça, mas ao longo dos tempos o seu nome poderá ter passado de Vila para Vira e daí Vir, a forma actual.
Maria Manuela de Campos Milheiro
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