A Costa Nova (com o prolongamento da Barra acoplado) é a pátria a que todos os anos regresso no verão. Mas também às vezes no outono. E também às vezes no inverno. Pátria é onde um homem (e quando um homem) quiser. Tenho de adormecer a olhar para o farol, tenho de acordar a olhar para o farol. Tenho de me embrulhar em casacos e camisolas de lã no pino do verão, porque senão nem é verão nem é nada, e a gente até pode pensar que está, sei lá!, (bater três vezes na madeira) no Algarve.
Dantes a Costa (cá em casa foi sempre uma, a Nova e mais nenhuma) tinha a ria a entrar quase até às casas da avenida. Apanhava-se o barco num pequeno ancoradouro que agora é posto de turismo, e os novatos olham e não percebem por que é que aquilo tem o feitio da proa de um moliceiro... Dantes apanhava-se aí o barco e ia-se à "bruxa", do outro lado da ria. Passávamos a tarde a beber ginjinha e a jogar matraquilhos. Houve campeonatos famosos... Depois a terra entrou pela ria dentro, e as coisas nunca mais foram o que eram.
A Costa/Barra tem o mais belo pôr do sol do mundo. A Costa/Barra tem a praia mais limpa do mundo: seja a que horas for, seja a que dia for (fins de semana incluídos) não se vê um papel na areia.
A Costa/Barra tem o melhor rodovalho do mundo. E as melhores enguias do mundo.
E sobretudo é a pátria incontestada...da tripa. Há quiosques do Zé da Tripa em todas as esquinas. (E, por favor, não confundir com bolacha americana). Há filas para comprar tripa até depois da meia noite. Há quem vá marcar lugar para amigos, há quem vá com uma lista de encomendas ("duas simples", "três com doce de ovos", "meia dúzia com chocolate") e o maralhal a aguentar até chegar a sua vez.
A Costa é a avenida com os palheiros às riscas, e nós a sonharmos passar a nossa velhice lá dentro, debruçados das janelas viradas todas para a luminosidade única da ria e o sabor distante da ginjinha, e o som dos bonecos de madeira a meterem golos na baliza do adversário.
Alice Vieira
http://www.youtube.com/watch?v=sl1RaHMfrCk
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