A árvore ainda, para terminar; ergue-se no quintal da casa, como um templo, como um prédio de cimento armado; cresce; os ramos desenvolvem-se para cima, para os lados; depois de grandes, o peso tomba-os um pouco, lentamente para baixo; floresce; nascem as folhas brilhantes e sedosas, frágeis, puras, informes, como um raio de prata; criam nervuras que endurecem, tornam-se rudes e pesadas; dão frutos, sementes, sumos, cores, sabores, cheiros, saciedade; as flores sonham, adormecem, ficam velhas e instáveis; tombam; e movem-se; e morrem; caem as folhas; fica a árvore; permanece; anos e anos e estações e séculos; dá mais folhas, flores e frutos, sementes, fecundidade; repete-se; e no tronco aparecem fundas rugas, em que se ocultam os deuses, feiticeiros, visionários, profetas e a eternidade; tira-se a seiva; resina; tira-se o casco, a saudade; fica a árvore; cortam flores; enfeitam jarras, usam-nas com velha arte; colhem-se os frutos e, enfim, apodrece a velha árvore; o tronco fende; as folhas caem; ficam os ramos no ar; cortam-se os ramos despidos, o vento arranca as raízes e é então que tomba a árvore.
Almeida Faria
http://www.youtube.com/watch?v=WSrY0rJELdM
Nenhum comentário:
Postar um comentário