domingo, 29 de março de 2015
Releio e não reamo nada
Releio e não reamo nada,
a minha vida abrupta é absurda,
a arte da iluminação foi toda ao ar pelos fusíveis fora,
e fiquei cego dentro da casa cuja, e pelo mundo, e na
memória, e na maneira
das palavras quentes que eu amava,
com as costuras das gramáticas inventadas tortas mas tão
amadas também elas,
nessa língua das músicas,
e desfaleço então de tudo e nunca mais ressuscito,
e só a dor,
só o pobre de mim com seu ramilhete de rosetas bravas,
suas mínimas corolas desirmãs que mexo
entre os dedos aos nós, eruditos e ardentes,
e os trabalhos do diabo, pobre diabo, deixo-os,
e a sopa e o pão meios comidos que nem esses sequer hei
merecido nunca:
e com esses míseros ofícios
morrerei do meu muito terror e da nenhuma salvação
da minha vida
Herberto Helder
https://www.youtube.com/watch?v=Dj3KoTRN1Ko
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