segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A minha filha (vendo-a dormir)


Que alma intacta e delicada!

Que argila pura e mimosa!

É a estrela d'alvorada

Dentro dum botão de rosa!

 

E, enquanto dormes tranquila,

Vejo o divino esplendor

Da alma a sair da argila,

Da estrela a sair da flor!

 

Anjos, no azul inocente,

Sobre o teu hálito leve

Desdobram candidamente,

Em pálio, as asas de neve...

 

E eu, urze má das encostas,

Eu sinto o dever sagrado

De te beijar— de mãos postas!

De te abençoar — ajoelhado!

 

Guerra Junqueiro

https://www.youtube.com/watch?v=wfF0zHeU3Zs

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