terça-feira, 10 de abril de 2012

Caminho dos montados


No norte mais norte de Portugal, e no seu oeste mais oeste, rasga-se um caminho que de tão lamacento só de galochas se percorre no inverno, e de tão poeirento só de sandálias se calcorreia no verão. A uma pintora estrangeira, em tempos fixada nas cercanias, apareceu certa vez, erguido por detrás de um recesso de azevinho, um anjo muito lindo, e de tamanha alvura que se diria coberto da farinha mais fina que se alcançasse moer. E a uma outra mulher, mas essa local, saltou-lhe para diante, vindo dos dentros de um carvalho carcomido, um trasgo, tão real como quem estas linhas escreve. Usava barrete galego, vestia jaleco de veludo verde, e calça de briche vermelho, e enfiava os pés numas soquinhas que davam cobiça. Com tudo isso, afiançava a que o enxergara, cabia o diacho do trasgo na covinha da mão.
Não explicarei onde se situa o meu caminho, de resto por demais esconso para que nele consiga alguém penetrar. Não quero que se atrevam a cortar por lá uma rama de loureiro, ou sequer a seguir o tranquilo rasto da sombra que eu for projectando.

Mário Cláudio
http://www.youtube.com/watch?v=pAKlhMNv-9E

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