Subir o rio era o mesmo que viajar para trás, até às primeiras idades do mundo, quando a vegetação transbordava da terra e as árvores reinavam. Uma torrente deserta, um grande silêncio, a floresta impenetrável. O ar era quente, espesso, muito pesado e mole. A luz solar não tinha alegria. Longos troços de rio deserto perdiam-se por lonjuras de enorme sombra. Nas margens de areia prateada, hipopótamos e crocodilos tomavam lado a lado banhos de sol. As águas largas corriam entre uma confusão de ilhas arborizadas, uma pessoa perdia-se naquele rio como num deserto, e todo o dia tropeçava em baixios, tentava encontrar um canal navegável e acabava por julgar-se vítima de um feitiço, isolada para sempre do que até ali conhecera - sei lá onde - talvez noutra vida. Em certos momentos o passado vinha ter connosco, como às vezes sucede quando não temos um instante de sossego; mas aparecia sob a forma de um sonho ruidoso e agitado, que viríamos a recordar, espantados, se aferido pela esmagadora realidade daquele mundo de plantas, água e silêncio. Era uma vida de silêncio que não parecia ter nenhuma paz. O silêncio de uma implacável força que tramava objectivos impossíveis de penetrar. Que nos olhava com olhar vingativo.
Joseph Conrad
http://www.youtube.com/watch?v=1b26BD5KjH0
O silêncio pode efectivamente ser poderoso e quando aliado às forças do medo/ desconhecido, implacável.
ResponderExcluirNeste momento apetece-me transcrever uma sábia frase de Robert L. Stevenson (em inglês) : "keep your fears to yourself, but share your courage with others".
Beijinho
Hilda