Ao longe, entre pinhais, surgiu uma casa.
- Vamos até lá - disse o homem. - Talvez lá esteja alguém que nos saiba ensinar o caminho.
Havia uma ligeira brisa e os pinheiros ondulavam.
Bateram à porta da casa. Ninguém respondeu(...)
Então o homem avançou com o ombro direito e arrombou a porta. Mas a casa estava vazia.
Era uma casa pequena de camponeses. Uma casa nua, onde só estavam escritos os gestos da vida. Havia uma cozinha e dois quartos(...)
Não havia ninguém na cozinha. Não havia ninguém nos quartos. Não havia ninguém nas traseiras, onde as roupas secavam, dependuradas no arame, gesticulando na brisa.
No forno a cinza ainda estava quente e em cima de uma mesa havia pão e vinho.
- Tenho fome - disse a mulher.
Sentaram-se e comeram.
- E agora? - perguntou a mulher.
- Vamos voltar para a estrada e continuar - disse o homem.
Saíram e atravessaram o pinhal. Mas a estrada tinha desaparecido.
- Tenho medo - disse a mulher. Agora tenho sempre cada vez mais medo. Tudo desaparece.
Sophia de Mello Breyner Andresen
http://www.youtube.com/watch?v=6crDzqSywWM
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