sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Uma família


Uma família não funcionava perfeitamente sem os seus criados, gente de fora e parentes pobres. Além dos directamente implicados na sua saúde e estado das firmas e propriedades: os médicos, os advogados, os capelães (que eram os párocos da freguesia ou, com mais elevação, os secretários do episcopado). Depois vinham os fornecedores de víveres e vestuário, os responsáveis da apresentação urbana, os merceeiros de grosso, ou de garrafeira, os alfaiates, ourives, decoradores e mestres-de-obras. Também tinham o seu lugar marcado na agenda da casa os explicadores, as baby-sitters, pessoal muito reduzido face ao de antigamente que compreendia a professora de piano e a jovem au-pair que ensinava línguas e acompanhava as meninas da casa, tratando também de assegurar o futuro com algum bom partido que se apresentasse.
A casa era um mundo que fervilhava de convites e contas para pagar, de despesas faustosas ou miúdas, de renovação de cortinas ou de roupa de casa, de projectos para os filhos, de pensões para os que estudavam no estrangeiro, de pequenas paixões e rivalidades domésticas e de grandes crises tanto financeiras como amorosas.

Agustina Bessa-Luís
http://www.youtube.com/watch?v=waersqxvFwY

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