sábado, 7 de setembro de 2019

Plaza de Cólon

Plaza de Cólon com a estátua de Cristóvão Colombo



Plaza de Cólon, Monumento a Colombo

Madrid, 4 de Dezembro de 1892
Cristóvão Colombo, marítimo, casado em Lisboa na freguesia de Santos, hóspede do Sr. Agostinho de Ornelas na ilha da Madeira, sócio da Sociedade de Geografia, sucedeu-lhe um dia descobrir a América, e assim principou a festa.
Por esse eufemismo "descobriu a América", se deve entender unicamente que o que ele fez foi ir lá. Enquanto a descobri-la, a verdade é que a América nunca esteve - como por exemplo a nossa ameixa de Elvas - coberta. Pela regra por que Cristóvão Colombo a descobriu, também o primeiro americano que veio à Europa descobriu a Europa, e não há ninguém que na sua classe, mais ou menos, não tenha descoberto alguma coisa... não azedemos, porém, o debate com reivindicações pungentes, posto que justificadas, e narremos com serenidade os acontecimentos.
Com o pretexto de que ele a descobriu, fez-se-lhe um centenário. Bosch, o malogrado alcaide, gizou as festas. 
Forasteiros vieram. Hotéis subiram preços. Chuva caía. Grupos de provincianos, de gorra encarnada e medalha ao peito, passavam tossindo por baixo de gotejantes chapéus de chuva, e eram os órfãos. Lamentáveis estudiantinas em traje escolar do século XVll, colher de pau no chapéu de dois bicos, tacões tortos pateando o lamaçal, eram a mocidade estudiosa. Perante Bosch, constituído em júri de exame, pilhos em folga e mendigos em vilegiatura prorrompiam em saltos de tigre e em uivos de chacal, para o fim de serem contratados como feras do mato virgem na cavalgada histórica...

Ramalho Ortigão
https://www.youtube.com/watch?v=g1TFPPL6JRY

Nenhum comentário:

Postar um comentário