quinta-feira, 21 de julho de 2022

Convento da Arrábida



Painel de Frei Agostinha da Cruz no Convento da Arrábida

Alta Serra deserta, donde vejo

As águas do Oceano duma banda,

E doutra já salgadas as do Tejo.

 

Daqui mais saudoso o sol se parte;

Daqui muito mais claro, mais dourado,

Pelos montes, nascendo, se reparte

 

Aqui sob-lo mar dependurado

Um penedo sobre outro me ameaça

Das importunas ondas solapado.

 

Duvido poder ser que se desfaça

Com água clara, e branda a pedra dura

Com quem assim se beija, assim se abraça.

 

Eis por cima da rocha áspera descem

Os troncos meio secos encurvados,

Eis sobem os que neles enverdecem.

 

Os olhos meus dali dependurados,

Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos

Como, quando, por quem foram criados?

 

Assim com cousas mudas conversando,

Com mais quietação delas aprendo

Que outras que há, ensinar querem falando.

 

Se pelejo, se grito, se contendo

Com armas, com razão, com argumentos,

Elas só com calar ficam vencendo.


Frei Agostinho da Cruz



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